Regiane Folter
Na semana passada, entre os dias 17 e 20 de maio, o 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural discutiu temas ligados à cultura, como a literatura, cinema e, é claro, a música.
No debate A produção musical contemporânea e a crítica especializada, o cantor Zeca Baleiro e os jornalistas Pablo Miyazawa e Alexandre Matias falaram sobre a crítica na música e a influência da internet na carreira dos artistas. Depois do debate, Miyazawa, diretor de redação da Rolling Stone Brasil falou ao Freesom sobre a revista, que surgiu no país em outubro de 2006.
Freesom: Como funciona a elaboração da edição brasileira da Rolling Stone?
Pablo Miyazawa: Como qualquer outra revista, tudo começa com reuniões de pauta intermináveis com todo mundo trazendo ideias e material. A gente exige que todo mundo esteja ligado, pois a Rolling Stone não é uma revista tão segmentada, fala de muitos assuntos, então é imperativo que a equipe inteira saiba de tudo, desde qual é o meme da internet mais bacana, qual é a situação do Osama Bin Laden, qual é o disco que está saindo esse mês, enfim, não existe mais essa coisa de jornalista especialista, não podemos nos dar ao luxo de ter na equipe alguém que só faça uma coisa. A partir desse grupo de ideias a gente elabora o que vai ter naquela edição. Temos um espaço limitado, são meras 80 páginas editoriais por mês e temos que preencher aquilo com todos os ingredientes que fazem uma boa edição, e uma boa edição na minha percepção é aquela que fala sobre tudo e que pode agradar muitas pessoas ao mesmo tempo. Não temos apenas o leitor rockeiro velho e nem o jovem moderno; temos o rockeiro velho, o jovem moderno, as mulheres, os mais velhos, os adolescentes. É uma salada que temos que preparar, mas que não pode ter sabores muito intensos e nem ser muito sem sal. Tudo tem que ser muito bem temperado.
Freesom: E as páginas que vêm de outros países?
Pablo: A gente recebe todo mês as duas edições norte-americanas e também as outras Rolling Stones do mundo, são mais de vinte. Com esse conjunto a gente sabe com o que podemos contar. Decidindo que vamos publicar essa matéria feita lá fora, a gente reserva o número de páginas pra ela e mandamos traduzir. Também tenho à disposição mais de mil edições antigas da Rolling Stone americana pra buscar material, por exemplo, em julho completa quarenta anos da morte do Jim Morrison, então eu tenho à disposição a Rolling Stone de 1971 com a matéria da morte dele, eu posso publicar isso agora. É saber usar o passado e publicar coisas relevantes no presente. Mas não é tudo publicado nos Estados Unidos vai ser relevante aqui, aliás, aproveitamos uma parte muito pequena de material estrangeiro.
Freesom: E acontece o contrário: alguma matéria sai daqui e vai para uma revista lá fora?
Pablo: Pode, mas não na norte-americana. Eles são muito bem resolvidos com a cultura deles e acham que só a deles basta. Mas há personagens brasileiros de interesse mundial. Fizemos uma capa com o Ronaldinho Gaúcho e esperávamos que ela tivesse um interesse especial na Espanha ou na Itália, onde ele jogou. Nenhum desses países se interessou, mas a Rolling Stone Rússia quer publicar. Quando isso acontece a gente comemora muito!
Pablo Miyazawa, editor da RS Brasil
Freesom: Como é feita a escolha do que cada repórter vai fazer?
Pablo: A equipe é tão pequena que não tem muito espaço pra competição. Temos os nossos especialistas: Paulo Terron é o cara que ta ligado em música nova e aficionado em Beatles; o Paulo Cavalcanti tem uma coleção de discos dos anos 60 e 70, então me parece meio óbvio que se tem alguma coisa nesse assunto é ele que vai fazer, mas a gente não tem muita escolha. Eu fiz a matéria com o Ronaldinho porque sou o único cara que tem relação com o futebol lá na redação, mas eu fiz o texto sobre as atrizes de novela e eu não assisto novela. A gente espera que a nossa equipe queira fazer o que é diferente e não só o que está na sua zona de conforto. Você não está acostumado, nunca fez nada assim na sua vida, é bom pra você. Que outra oportunidade você vai ter pra fazer isso? Se o cara escreve bem, ele vai escrever bem sobre qualquer coisa. Eu procuro os não-especialistas e bons escritores.
Freesom: Qual é o espaço que a revista destina pras bandas independentes ou que estão surgindo agora?
Pablo: Já foi maior, atualmente não é tão grande assim. No DNA da revista não está ser uma revista de lançamentos de nomes, e sim de consolidação. Ela não vai lançar pela primeira vez um artista que você nunca ouviu falar, ela vai assinar embaixo: “olha, depois que todo mundo falou sobre essa pessoa, a gente garante que o negócio é relevante”. Não fomos os primeiros a dar Lady Gaga, mas foi no mo momento que ela saiu na Rolling Stone que ela ganhou o crédito que está carregando até hoje. O nosso leitor é um leitor mais generalista, não muito especializado, ele está interessado em coisas novas, como todo mundo, mas ele talvez não queira gastar quatro, cinco páginas em bandas que ele nunca ouviu falar. Talvez ela queira ler mais sobre as coisas que ele gosta e conhece. Pra ler sobre as coisas novas, ele tem a internet, que serve pra isso mesmo.
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