Um breve histórico do Rei do Reggae e a polêmica em torno do enfraquecimento de sua mensagem por meio de sua música
Jéssica Godoy
“Não temos educação, temos inspiração”. Essa frase foi dita por Bob Marley em um depoimento. Nascido com o nome de Robert Nesta Marley em 1945 e alterado em um batismo seis meses antes de sua morte, 36 anos depois, para Berhane Selassie, é jamaicano de origem humilde, filho de pai inglês, que não chegou a conhecer.
O músico Bob Marley foi cantor, compositor e guitarrista, apesar de ter morrido jovem em consequência de um câncer de pele no pé, somou 20 anos de carreira e é o expoente máximo do reggae, considerado o Rei deste estilo musical inconfundível de batidas ritmadas e lentas. O reggae teve suas influências no soul norte-americano e no jazz. No Brasil, além de Gilberto Gil ser representante e adepto do estilo, outros grupos como o Planta e Raiz, Ponto de Equilíbrio, Tribo de Jah, Edson Gomes também fazem suas músicas seguindo a tradição do reggae.
Bob considerava-se um revolucionário e acreditava que através da música poderia evidenciar problemas do mundo e difundir o amor, a paz, a harmonia, a liberdade e igualdade entre os homens. Era influenciado pelo movimento e cultura Rastafári – mais uma ideologia que religião – que nasceu no fim da década de 20 do século passado, utilizando-o como estilo de vida e inspiração para suas músicas. O movimento era fundamentado basicamente na irmandade entre os homens, interpretação própria da bíblia, força dos negros africanos, comunhão com a natureza e no uso da maconha para fins espirituais e ritualísticos. Marley argumentando o uso da “Erva da Sabedoria”, dizia que como ela era criada por Jah (como eles chamam a Deus) não poderia ser considerada ilícita. Apesar de ser ilegal em várias partes do mundo é, de acordo com a ONU, a droga mais utilizada. Com a exceção da legalização por parte de países como a Alemanha e Holanda, além de dez estados norte-americano descriminalizarem ou permitirem o uso dela para fins medicinais.
Os “dreads” são, hoje em dia, um estilo tradicional da cultura negra e símbolo da identidade reggae, além de também ser considerado um estilo de vida. Mas suas origens não são de hoje, remetendo à civilização egípcia e passando por vários povos e culturas.
Atualmente, ao redor desses 30 anos da morte do músico (completados na última quarta-feira, 11/05) surgiu uma polêmica em torno da cultura Rastafári caracterizada pelo estilo musical e também pela mensagem política. É na questão do legado dessa mensagem revolucionária estar dando sinais de perda de força dentro da nova geração, que muitos temem que a cultura se torne apenas comercial. A constatação se dá na terra natal do Rei do Reggae. Na Jamaica, a música do ídolo está sendo menos tocada, e uma das causas é o próprio governo, que tenta abrandar o empenho de Bob. Entretanto, isso nada tem a ver com a figura do ícone, que não teve sinais de abalo a sua imagem lendária e continua aquecendo a indústria musical. Mesmo a Fundação Marley lamenta e afirma que sua música não tem mais a mesma força.
Apesar disso, é fato que Bob Marley teve mais de 200 milhões de cópias vendidas no mundo inteiro. Desses álbuns, Legend, lançado em 1984, bateu o recorde de todos e é, por isso, o mais vendido na história do reggae. Músicas inesquecíveis como In This Love, One Love, Three Little Birds, No Woman No Cry, são apenas exemplos de canções atravessadas e cantadas por várias gerações desde lançadas. Se o objetivo, com a reflexão da mensagem das músicas de Bob Marley, está ou não perdendo a força, de alguma forma, esses dados demonstram que sua luta não foi em vão. Marley conseguiu transmitir sua mensagem e transformar, nem que um pouco, a mentalidade das pessoas. Essas, que de alguma maneira, tiveram contato com o músico ou, simplesmente, ouviram, mais do que isso, sentiram suas canções – como mesmo dizia Marley em relação ao verdadeiro conhecimento do reggae – assimilaram seus ideais de amor e paz em atitudes consumadas durante suas trajetórias de vida.
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