O telão foi, então, tomado por um relógio descoordenado que se desmontou às nove e meia e deu a temática do tempo ao show. Antes do U2 aparecer, rolou a trilha sonora de “Minha Menina”, dos Mutantes, e “Space Oddity”, de David Bowie – que contou com uma animação de ETs em vídeo para ilustrar. Foi aí que a guitarra de The Edge apareceu, soltando os primeiros acordes de “Even Better Than the Real Thing”.
A faixa seguinte, “Out of Control”, foi uma agradável surpresa para os fãs dos anos 80. Fazendo piada, Bono anunciou a música como nova: na verdade, era o primeiro single da banda, que não aparecia em turnê desde 2006.
Outra surpresa foi “Zooropa”, faixa de 1993 que nunca havia sido tocada por inteiro ao vivo. Acompanhada de um telão que quase se desmontava e mudava de cor freneticamente, a música não empolgou muito, mas fez a alegria de quem conhece toda a trajetória da banda.
Empolgando a galera logo no começo do show, o U2 apresentou “Elevation” e “Until the End of the World” com a guitarra impecável de The Edge e o baixo discreto de Adam Clayton. Em seguida, o público quarentão relembrou os tempos antigos com “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” e “Pride (In the Name of Love)”. Já “Sunday Bloody Sunday”, mais ao final, fez todo mundo pular com a clássica bateria marcada de Larry Mullen Jr.
O repertório também contou com músicas mais recentes: as animadas “Vertigo” e “Get on Your Boots” conseguiram arrancar as letras em coro da multidão. “Magnificent”, do último álbum, foi provavelmente a faixa mais dispensável da noite, mas deu à apresentação um toque de louvor que conseguiu comover a platéia.
Falando em tradições, Bono manteve uma ao chamar Regina Medeiros, de Natal, ao palco. Dessa vez, a tarefa da sortuda era recitar um trecho de “Beautiful Day”, que foi entoada pelo vocalista logo depois. Como era de se esperar, a moça ainda lascou um beijinho no cantor.
Outra tradição mantida foi a de criar um novo arranjo para alguma canção: para não enjoar aos fãs e a si mesmos, o U2 sempre toca na turnê uma versão diferente de alguma faixa. Na 360° Tour, quem muda é “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight”, que recebe um tratamento étnico e passa a ser tocada como uma espécie de batucada.
A cota romântica da noite ficou por conta de “North Star”, música que será incluída no próximo CD, e “With or Without You”, apresentada no final do show com a iluminação de um globo de espelhos. “Miss Sarayevo”, acompanhada de uma bela homenagem em vídeo no telão, também conseguiu emocionar o público, enquanto “Walk On” deixou no ar uma mensagem de força e esperança.
Bono também cumpriu seu papel de frontman e interagiu bem com o público, soltando várias frases em português. Chegou até a brincar que o dia seguinte fora decretado pelo governador como “U2 Day”, pronunciando um “amanhã ninguém trabalha” cheio de sotaque.
Já o telão, que foi um espetáculo à parte, exibiu a coreografia do clipe de “Mysterious Ways” e traduziu em cores a lindíssima “City of Blinding Lights”. As tradicionais imagens de Aung San Suu Kyi, ativista de Mianmar libertada no ano passado, também foram exibidas durante “Scarlet”, enquanto o discurso de Desmond Tutu precedeu o coro de “One”.
Mais ao fim da apresentação, a emocionante “Where the Streets Have no Name” revigorou o público e o próprio U2 para mais quatro canções com um feixe de luz bem no centro do palco. Bono cantou “Ultraviolet (Light My Way)” num microfone que mais parecia um mastro de submarino, guiando todo o estádio pelos 35 anos de carreira da banda.
A última música, “Moment of Surrender”, surpreendeu com uma emoção que não era mostrada na gravação do CD. Bono pediu para que todos acendessem seus celulares e, então, fez um discurso para o Brasil, falando do papel de liderança do país e do que ele representa.
Com sorrisos nos rostos, os integrantes do U2 terminaram de tocar, agradeceram às quase 90 mil pessoas que os aplaudiam e se retiraram em silêncio. Ficava ali a satisfação de quem pagou, o orgulho de quem se apresentou e o gostinho de quero mais para quem assistiu.
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